Pronta para receber o turista e cheia de histórias, Areia surpreende

Imagina você sair de casa planejando conhecer engenhos de açúcar e cachaça, uma loja de doces, alguns museus importantes e, de quebra, ainda fotografar belas casas preservadas. Agora imagina você chegar ao destino e logo se surpreender com uma cidade preparada para o turismo e cheia de história! Foi assim com Areia, no Brejo Paraibano.

menino na bicicleta

Localizada no topo da Serra da Borborma, a 618 metros de altitude, Areia possui cerca de 420 imóveis tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 2006, e é cercado por belas vistas da serra. Além disso, reúne curiosisdades que tornam a cidade ainda mais interessante. Lá surgiram a primeira banda filarmônica da Paraíba, o primeiro curso de Agronomia do Nordeste, o primeiro jornal e o primeiro teatro do estado, e lá a escravatura foi abolida antes da Lei Áurea. Areia também é a terra onde nasceu o pintor Pedro Américo – autor de um dos quadros mais famosos do nosso país – e do escritor José Américo, percursor do Regionalismo na literatura brasileira. E tem muito mais!

No centro, a simpática rua Getúlio Vargas, com suas coloridas casas tombadas, por si só, já é um atrativo que rende belas imagens. Mais do que isso, tem uma energia boa que mistura nostalgia,  tranquilidade e alegria. A praça cheia de conversas no final da tarde, o comércio pulsando em imóveis preservados e o povo nas calçadas, interagindo ou vendo o tempo passar. Em tempos de correria, trânsito intenso e encontros rápidos apenas em mídias sociais, Areia mostra para nós que é possível sim viver a cidade.

senhores na praça

BUDEGA DO VAVÁ
Um bom lugar onde você pode observar e vivenciar tudo isso é a Budega do Vavá, que funciona lá no centro há 37 anos. De um lado, prateleiras com cachaça, rapadura, açúcar, mel de engenho, manteiga, queijos, fuba e outros produtos da região; do outro, instrumentos musicais e outros objetos que contam um pouco da história da família e da cidade, além de sourvenis. A bodega é estreita, mas sobra espaço mesmo é para uma boa conversa.

bodega do vavá

João Chianca, filho do seu Vavá, contou que o pai gostava de conversar e contar as histórias da cidade, antes mesmo de falarem em Turismo Rural por lá. Com a morte do Vavá, há cerca de dois anos, João tocou o negócio e incrementou com uma visão mais voltada para os turistas. Ele nos passou várias dicas e falou um pouco da história e do dia a dia de Areia. Passamos um bom tempo por lá conversando. Vale a pena visitar.

budega 3

SOLAR JOSÉ RUFINO
Em frente à Budega está a interessante Casa das 11 portas (hoje dividida entre alguns estabelecimentos comerciais) e o Solar (ou Casarão) José Rufino, na Praça Pedro Américo. O prédio foi erguido pelo português Jorge Torres em 1818 e possui uma das duas únicas senzalas urbanas do Brasil ainda preservadas. São doze salas minúsculas que cercam um pátio, onde eram comercializados os escravos, e contam parte desse capítulo triste da nossa história.

casarao jose rufino

casarao detalhe

A entrada é gratuita e a visita é guiada. Na sala principal, alguns quadros de artistas locais estão expostos e à venda, nos demais cômodos, alguns objetos e móveis que fazem referência à época. Por trás do pátio, a vista que se tem da serra também vale a pena conferir. O casarão, onde também funciona a secretaria municipal de Turismo, é bem conservado e hoje pertence à Justiça, mas é mantido pela prefeitura.

casarão pátio

CASA PEDRO AMÉRICO
A obra Independência ou Morte talvez seja a pintura mais conhecida entre os brasileiros, está em praticamente todos os livros de História, ilustrando o momento em que Dom Pedro I, montado num cavalo e empunhando uma espada, rompe com a Coroa Portuguesa. O que pouca gente sabe é que o autor dessa obra é paraibano, e, mais: natural de Areia.

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A casa onde Pedro Américo viveu parte da infância hoje é um pequeno museu. Lá estão expostos objetos pessoais do artista, réplicas de estudos e de algumas obras, como parte da “Batalha do Avaí”. casa pedro americo 3

O único quadro original no museu é o Cristo Morto (1901). A visita não é guiada, o que é lamentável, tamanha importância do pintor para a cidade e para a história do Brasil. A entrada é gratuita e o local também e mantido pela prefeitura municipal.

MUSEU REGIONAL DE AREIA
Ali bem ao lado da igreja da Matriz e praticamente em frente à Casa Pedro Américo está o Museu Regional de Areia, o último local que visitamos na cidade, no último dia de viagem. Uma pena, na verdade, pois o lugar deve ser um dos primeiros locais a ser visitado. Vamos explicar o porquê.

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O museu é muito rico e cheio de histórias. Lá você vai conhecer como se deu a ocupação da serra, os ciclos econômicos pelos quais a cidade já atravessou – Algodão, Café, Sisal e Açúcar – , seus principais personagens, as festas populares e muitas curiosidades do lugar. Tudo é muito organizado e explicado detalhadamente pelos guias. O que nos atendeu foi extremamente didático e atencioso, nada de decoreba. É um daqueles passeios para você perguntar, conversar e, de fato, compreender a cidade.

museu regional

Então, vale a pena planejar para que o Museu seja um dos primeiros pontos a ser visitado. O horário de funcionamento é de Quarta a Sábado, das 9h às 12h e das 13h30 às 16h30, e aos Domingos, das 9h às 12h. A taxa de visitação é de apenas R$ 4 e R$ 2 (meia-entrada).

O TEATRO MINERVA
Infelizmente, o Teatro Minerva, primeiro teatro do estado da Paraíba, está fechado para reforma. Ainda tentamos, por algumas vezes, fotografar a fachada, porém todas as vezes que passamos por lá havia caminhões estacionados, aparentemente em operação de carga/descarga, em frente ao prédio. Um lugar tão importante merecia um pouco mais de atenção do poder público municipal.

ATUALIZADO (26/05) – Resposta da Prefeitura
Sobre o Teatro Minerva, a Prefeitura Municipal de Areia esclareceu que Teatro Minerva acabou de receber a concessão de administração do espaço, que antes era administrado pela UFPB. De acordo com a prefeitura, o teto do palco está comprometido e, por isso, encontra-se fechado. A Prefeitura está iniciando um processo para revitalização do espaço.

O pessoal também nos enviou fotos internas e externas do Teatro Minerva. Nós agradecemos demais pela atenção e pelo contato!

18716392_1921059231511678_2078706749_n(Imagem: Codecom/PMA)

18698747_1921059124845022_1543793762_o.jpg(Imagem: Codecom/PMA)


Você já viu:

Uma viagem pelo Brejo Paraibano

Nos próximos posts você vai conhecer:

  • Turismo Histórico e Cultural em Alagoa Grande
  • Comida boa, hospedagem e aventura em Areia
  • Dois destinos que não podem faltar no roteiro dos apreciadores de Cachaça

Uma viagem pelo Brejo Paraibano

Em nossa primeira viagem pelo Partiu Interior fora de Pernambuco, conhecemos um pouco do Brejo Paraibano, uma região que encanta e surpreende, onde Turismo Rural, Turismo de Aventura e Turismo Histórico e Cultural caminham lado a lado. Foram três dias intensos, percorrendo alguns dos principais atrativos dos municípios de Alagoa Grande e de Areia, e os detalhes dessas visitas você acompanha aqui, ao longo das próximas semanas.

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portal alagoa grande

PARA TODOS OS GOSTOS
O Brejo Paraibano reúne um casario antigo e preservado, cercado por belas paisagens naturais. Possui muitas e boas opções para quem gosta de cachaça, outras para quem curte conhecer engenhos, casas e histórias do século passado, também para quem prefere se aventurar em trilhas a pé ou de 4×4 e, claro, para quem quer simplesmente comer bem e descansar.

“Como vocês descobriram essas cidades? O que tem por lá?” Essas foram algumas das perguntas que mais ouvimos nos dias que antecederam nossa viagem. E não é para menos: se o próprio interior de Pernambuco ainda é pouco conhecido por boa parte dos pernambucanos, imagine duas pequenas cidades localizadas a mais de 100 quilômetros da capital paraibana? Pois bem, respondendo, nosso primeiro contato com Alagoa Grande e Areia foi a partir da publicação Roteiro Integrado da Civilização do Açúcar, elaborado pelo SEBRAE e lançado em 2009.

Como o material está perto de completar dez anos, foi preciso pesquisar e telefonar para engenhos, museus, hotéis afim de sabermos o que (ainda) tem por lá. Com nossa listinha de locais para visitar, partimos no dia 1º de maio.

EM ALAGOA GRANDE
Localizada na encosta da Serra da Borborema, Alagoa Grande fica distante 103 quilômetros de João Pessoa (PB) e possui um dos portais mais legais que já passamos até hoje: um pandeiro gigante, referência ao seu filho ilustre, o Jackson do Pandeiro.

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A visita ao Espaço Cultural Jackson do Pandeiro é parada obrigatória. Lá você vai encontrar documentos, discos e objetos pessoais do chamado Rei do Ritmo. Um lugar sensacional para quem gosta de música popular.

É interessante visitar também o Museu Margarida Maria Alves, agricultora e líder sindical que foi assassinada dentro de casa em 1983 por lutar pelos diretos trabalhistas de agricultoras e agricultores. Conhecer este lugar é vivenciar a luta de uma mulher que inspira trabalhadoras do campo até hoje através da Marcha das Margaridas (Clique aqui para saber mais).

Ainda em Alagoa Grande, vale muito a pena visitar o Engenho Lagoa Verde, que produz a premiada cachaça Volúpia. Distante cerca de 2,5km da área urbana, o lugar é ideal para conhecer o processo de fabricação da bebida e ainda conta com um restaurante rural, o Banguê. Agendando também é possível fazer trilha (trekking) na mata serrana nativa preservada no engenho.

cachaça volupia

EM AREIA
No topo da Serra da Borborema, a 618 metros de altitude, está a simpática Areia. O conjunto arquitetônico da cidade é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 2006, e cercado por belas vistas da serra.

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Passear pelo centro da cidade já é, por si só, um atrativo, é como se você viajasse pelo tempo até o século XIX. Na área tombada, são aproximadamente 420 imóveis, entre os quais se destacam o Solar José Rufino – um casarão que contém uma das duas únicas senzalas urbanas do Brasil ainda preservadas – a casa do pintor Pedro Américo, o Museu regional de Areia e a Budega do Vavá, um ótimo lugar para comprar cachaça, doces, rapadura, mel de engenho e lembrancinhas.

Comida boa e Turismo Rural também não faltam. Vale a pena almoçar no Restaurante Vó Maria – comida regional, sem agrotóxicos a um preço justo – e jantar no sofisticado Bambu Brasil. A sobremesa fica por conta da Casa do Doce, um destino imperdível, cheio de sabores. Perto de lá, siga até o Engenho Triunfo para conhecer a produção de uma das cachaças mais vendidas da Paraíba e que leva o belo casario de Areia estampado no rótulo.

Cachaça triunfo

COMO CHEGAR
Do Recife até a cidade de Alagoa Grande existem duas opções, mas a que recomendamos é: ir pela BR-101 até João Pessoa e de lá pegar a BR-230 – a famosa Rodovia Transamazômica – até Juarez Távora e de lá seguir pela PB-79. As BRs são duplicadas e bem conservadas, e a rodovia estadual também não tem problemas, é segura e bem sinalizada. A subida da serra é íngreme  e com curvas acentuadas, mas basta manter-se atento(a) e dentro do limite de velocidade.

A outra opção – apontada pelo Google como a mais rápida – é seguir pela BR-101 até Goiana e lá pegar a PE-75/BR-408 para Pedra de Fogo, Itabaiana e depois a BR-230 e PB-79. No entanto, não recomendamos este caminho. Voltamos por ele e, no lado pernambucano, passamos por muitos buracos (que obrigam você a parar ou pegar a contra-mão), trechos em reformas e curvas perigosas. Não compensam os minutinhos a menos.

CONTINUA
Todos os detalhes destes locais você conhecerá em nossas próximas postagens, pois é tanta coisa boa em Alagoa Grande e Areia que tornaria o texto interminável.